Editorial

A linha tênue da cobertura

Na mesma Sexta-feira Santa que, neste dia 7, também é marcada no calendário de efemérides como o Dia do Jornalista, as coberturas recentes sobre ataques em escolas e outras tantas ameaças que surgiram e seguem aparecendo colocam sobre a mesa um desafio coletivo para a sociedade como um todo, mas sobretudo para quem lida diariamente com a notícia: de que forma lidar com tais episódios trágicos? Até que ponto é preciso levar ao leitor, ouvinte ou espectador detalhes sobre estes crimes?

As questões, cotidianas dentro de redações, ganharam eco perante a sociedade diante da decisão tornada pública por muitos veículos de comunicação de não mais divulgar minúcias dos recentes atentados em escolas, como o ocorrido na quarta-feira em Blumenau. Sobretudo pormenores sobre o ataque e sua autoria. Dados que até bem pouco tempo eram buscados por equipes de reportagem à exaustão para que fossem levados ao público, como nome, motivação e forma de ação dos criminosos passaram a ser omitidos diante do entendimento de especialistas em tais crimes violentos de que a notoriedade do assassino serve como uma espécie de "prêmio" a ele e, principalmente, uma inspiração a outros que pensem em executar barbáries semelhantes.

Com base nesta compreensão sobre como pensam e agem possíveis autores de atentados e massacres, torna-se acertada e, no mínimo, prudente a postura adotada pela maioria da imprensa profissional, inclusive este Jornal. No entanto, isso de alguma forma deixa parte dos consumidores de jornalismo se questionando _ e, às vezes, abordando repórteres e editores _ sobre a ausência de informações que julgam relevantes e que, ao longo de décadas, habituaram-se a ver nas coberturas. Informações que, no contexto atual, trazem à tona também o debate sobre o que é de interesse público e o que é de interesse do público. E que, lamentavelmente, circulam sem qualquer filtro em redes sociais e grupos de mensagens, propagando justamente o que se recomenda evitar ou, pior ainda, servindo como isca para a disseminação de mentiras e boatos.

Fato é que semelhante discussão quanto a não divulgar dados que possam garantir a notoriedade esperada pelo bandido ou o efeito de contágio a potenciais atacadores também se dá no sentido de assegurar ao leitor/ouvinte/espectador a informação de qualidade que espera e tem direito. Se tamanha violência e ódio que resulta em massacres em escolas é um processo ainda novo neste Brasil atual, da mesma forma traz desafios para quem vive na linha tênue da apuração e da notícia simultânea aos fatos. Toda cautela e profissionalismo se fazem necessários para, ao menos, minimizar as possibilidades de equívocos jornalísticos ou estímulos à violência. Estamos, jornalistas e sociedade em geral, em verdade, permanentemente aprendendo.

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